Ainda recordo o que senti
quando, ao dar-lhe dois beijinhos inocentes, o seu aroma me deixou…. É
fantástico o efeito que os perfumes têm em mim, quando vêm a envolver um corpo
que adivinhas perfeito. A vontade de o descobrir e beijar, centímetro por
centímetro, antes de o apertar num abraço vigoroso deixou-me durante dias sem
conseguir pensar noutra coisa. Não é meu hábito, mas toquei-lhe levemente no
braço enquanto a cumprimentava. Confusão com o capacete, finalmente na cedeira
em frente, e eis que estamos sentados a desfrutar o sol de inverno e eu a
sentir aquele aroma doce. Rimo-nos que nem perdidos, antevendo o que já me
parecia inevitável.
E, sem aviso prévio,
quando tudo parecia bem encaminhado chegou o balde de água fria: Mas tu és
casado! E como explicar, naquele momento, uma situação que se arrastava há
quase um ano? Lá fiz o triplo mortal, com pirueta e um flic-flac à retaguarda,
mas não pareceu convencida. Mesmo sendo uma pessoa que praticou ginástica,
senti que era demais. What if, disse-lhe? Não queria complicações, o que para
mim me pareceu música, com alguma esperança.
Entretanto reparei como o
preto lhe ficava tão bem e como aquelas calças elásticas revelavam ainda mais
do que tinha percebido naqueles segundos de contacto no almoço… Adoro o calor,
também por isso, e o calor de Dezembro permite combinar uma lingerie sedutora
com uma roupa mais ligeira…Entretido nestes pensamentos acabei por lhe
perguntar por onde andava, no Tango, uma vez que nunca nos tínhamos cruzado.
Desencontros, que urgia reparar. Ficou logo combinada a ida a uma Milonga e,
entretanto, estávamos quase na hora de almoço. Não quis arriscar mais e,
sabendo que tínhamos uma amiga em comum, despedi-me com esperança de uma aliada
que confirmasse a minha história.
Novamente aquele aroma
suave e a despedida já me custou mais. A promessa da Milonga aliviou o stress,
mas o leve contacto com o seu peito deixou-me aos saltos, a pensar que o tempo
ia parar… Duas semanas difíceis se adivinhavam, mas lá passaram por fim, e
chegou o dia da Milonga.
Via-a entrar quando o
tempo parou. Estava a dançar, mas reparei que não trazia sapatos, o que não era
um bom sinal. Lembro-me que me tinha dito que não dançava Tango há muito tempo,
mas o estar lá, para mim, já era uma esperança.
Deixei passar várias tandas antes de a convidar para dançar. Queria abraçá-la, mas não queria
embaraçá-la… Relutantemente aceitou. Não podíamos ficar por aqui. Como vinha
com uns amigos que também não dançavam, quiseram ir mais cedo. Não a podia
acompanhar mas, desesperadamente, tinha de a ver outra vez, de lhe dar o abraço
que lhe tinha prometido, de dançar com ela, de a ter bem junto a mim. E em breve.
Continua...